quinta-feira, 10 de maio de 2012

Apollo Ômega - Cap. II: Êxtase



David se senta perto de mim. Ambos permanecemos em silêncio até Emily se aproximar de nós. Ela enxuga as lágrimas, derramadass pela perda do companheiro.

- Como está se sentindo, Noah? - me pergunta a médica.
- Me recuperando. Ainda não estou cem por cento, mas estou bem. Quantos já acordaram?
- Como você deve ter notado, do nosso setor todos os quatro. Mas do outro setor, eu ainda não sei. Fui a primeira a acordar, umas oito horas atrás. David acordou uma meia hora depois de mim. Howard acordou uns dez minutos antes de você.
- Eu vou ver como estão os outros. Emily, leve Noah até a cozinha e dê-lhe algo para comer. Volto já. - disse David com o ar militar característico do capitão da nave.

Os oito tripulantes da Apolo Ômega ficaram divididos em dois setores durante o êxtase. Assim que David saiu para verificar o outro setor, a face de Emily ficou estampada com uma enorme preocupação.

- Eles nos disseram que complicações poderiam ocorrer, que alguns de nós poderiam não resistir ao êxtase. Meu Deus, e se mais de nós morrerem, o que farem--
- Emily! Fique calma! Precisamos de você. Por favor, respire fundo e volte a raciocinar! - aumentei o tom de voz para tentar trazer minha colega de volta à realidade.

Ela assentiu e fomos até a cozinha. Lá ela me preparou um chá bem quente e me ofereceu algumas bolachas. Recusei. Não me sentia bem para passar algum sólido pela garganta. Depois disso nos dirigimos até a enfermaria. Emily queria realizar alguns exames em mim. Ela era uma mulher racional, certas vezes, diria, fria demais. Daquelas que tinham uma relação conjugal com o trabalho. Não tinha filhos nem namorado. Conhecia Emily há alguns anos, trabalhamos juntos em algumas missões para o governo. No começo a chamava de doutora Dean, mas os anos trouxeram intimidade, e hoje a chamo pelo primeiro nome.

- Aqui, coloque esse eletrodo no seu peito. - dizia, com um semblante mais calmo.
- Emily, você acha que nós iremos --
- DOUTORA DEAN, JOHNSON! Rápido! Venham até aqui!

Era a voz de David. Do modo como soava não deveria ser coisa boa. Antes mesmo de eu pensar em tirar os eletrodos, Emily saiu em disparada, murmurando "ah, meu Deus, de novo não". Enquanto me dirigia para onde a voz de David parecia vir comecei a sentir tontura, a vista embaçada. Tomei fôlego e continuei. Só parei quando cheguei aonde estavam.

A minha primeira visão foi a da câmara de êxtase número dois, que tinha espaço para quatro pessoas, com apenas dois dos nossos homens lá dentro. E na sala haviam três pessoas: David, Emily e Carl, que parecia não estar bem. Emily já se preparava para analisar Carl.

- Quando entrei e vi que dois compartimentos estavam vazios, resolvi chamar os rádios de cada um deles. Nenhum me respondeu. Fiz uma varredura pelas câmeras da nave, e encontrei Carl vagando a duas salas daqui. Quando o encontrei, percebi que ele estava como que catatônico, não me respondia nada. - explicava-nos David com certa dose de preocupação, o que não diminuia seu cenho de capitão.
- E - olhei para ver qual nome estava escrito no outro compartimento vazio - Amanda? Onde ela está? - perguntei com certo medo da resposta.
- Não a encontrei em nenhum lugar da nave onde há uma câmera. - respondeu David, agora não demonstrando nenhuma emoção em sua face, como que a estranheza da situação pudesse ter desaparecido com seu ar militar.

Tive a ideia de verificar nos registros de vídeo da câmara de êxtase. Enquanto Emily cuidava de seu novo paciente, David e eu fomos olhar no computador. Esperávamos que o que víssemos nos esclarecesse o que houve. Ao invés disso, só nos trouxe mais dúvidas. E medo. O que vimos (ou o que não vimos) nos trouxe medo. Muito medo.

............



Ω